sexta-feira, 5 de junho de 2009

Porque os Beatles NÃO são a banda mais overrated da história

Há uma semana o Marcel do ótimo Byte Que eu Gosto escreveu uma pequena crítica ao jogo “Rockband Beatles” comparando o grupo britânico aos brasileiros Zezé diCamargo e Luciano. Apesar de respeitar a influência do quarteto para seus pais, o autor também fez alguns comentários que enfureceram fanboys dos Beatles. Claro que ele não tem a obrigação de explicar suas posições, as pessoas são livres para não gostar do que não gostam e de não recomendar etc... Mas eu, como fanboy dos “quatro rapazes de Liverpool” (como eu odeio essa definição) resolvi intervir na briga com esse post.



Pra começar vou falar uma coisa que pode desesperar um beatlemaníaco. Zezé DiCamargo e Luciano têm muito de Beatles. Têm mesmo, não só eles como a maioria dos artistas que enveredam pela música pop, procurando o sucesso de meados do século XX pra cá: a estrutura harmônica, o estilo de composição, o padrão estético, o modelo (baixo/guitarras(ritmica/lider)/bateria), os meios de divulgação e marketing, comportamento no palco. Veio tudo dos Beatles. Zezé de Camargo e Luciano tem realmente uma música chamada “Saudade Dos Beatles” e gravaram a versão em português de “And I love her”.



Mas vamos um pouco além nessa análise rompendo alguns mitos que provavelmente você já ouviu por aí.



As músicas dos Beatles são fracas, breguinhas e melosas?



Os Beatles surgiram numa época onde reinavam os grupos vocais. Depois da primeira geração do rock ter, convenientemente, desaparecido (Chuck Berry preso, Elvis servindo na Alemanha, Jerry Lee Lewis caindo em desgraça por casar com a prima adolescente, Buddy Holly morto e Little Richard virando pastor) A música pop mundial foi tomado por grupos vocais fracos, breguinhas e melosos. Os Beatles romperam essa barreira com um híbrido, ao mesmo tempo que posavam de bons moços com suas franjinhas e terninhos (uma herança dos Mods, que de bonzinhos não tinham nada) traziam de volta os instrumentos elétricos, símbolos do rock “de raiz”. Assim eles cativaram o público médio e trouxeram estes para uma levada mais dançante e agressiva, que o das "boybands", lembrando bastante o trabalho dos primeiros roqueiros negros. Os próprios Beatles admitem influências de Motown, Chuck Berry e Little Richard (de onde tiraram o famoso “uhhhhhhh") e até gravaram sucesso destes. Assim que o grupo conquista sua audiência (em uma espécie de cavalo de tróia) explode seu próprio estilo, se aproximando bastante do estilo que o grupo tinha na turnê em Hamburgo, antes da fama. Rock seco e ritimado.



Para entender a história da cultura é necessário antes de mais nada compreender o período em que ela ocorreu. Sem isto caímos no abismo do senso comum e começamos a comparam as letras do Radiohead com Beatles, o que convenhamos não faz o menor sentido.



O Ringo é um baterista ruim?



Não poderia estar mais errado. Para quem não sabe, Ringo foi o último Beatle a entrar na formação clássica que os levaria ao estrelato, substituindo o mediano Pete Best. Por quê? Porque Ringo era o melhor baterista de Liverpool, um músico preciso e extremamente técnico. Esquisito ler isso né? Depois de tantos anos do senso comum martelando em nossas cabeças que ele era o patinho feio dos Beatles. Feio ele era, mas nunca foi pato. Ringo vem de uma escola de Rithm'n Blues uma espécie de antecessor do rock, que misturava o peso do Blues com o ritmo do Country. Os outros bateristas que hoje se sacramentaram como os melhores (Keith Moon#who, Ginger Baker#Cream, Mitch Mitchel#Jimmi Hendrix, John Bohan#Led Zeppelin) vieram de outra escola, não necessariamente melhor, que era do jazz,/Blues, mais voltados a virtuose e o improviso e que não combinaria nada com a bomba sonora que o produtor George Martin estava armando para os Beatles.

Ringo inventou um estilo de bateria, que eu chamo de backbeat, uma espécie de paradinha, vista em diversas gravações do início da carreira como essa aí de baixo.







Ouça qualquer gravação entre 62 e 65 e veja se há uma bateria mais presente e potente que a do Ringo. Não tem. Depois aparece um monte. Todo mundo copiou.



As letras são bobas, repetitivas e rasas?



As letras da época eram bobas, repetitivas e rasas. Vamos falar do início dos anos 60. Everly Brothers? As músicas selvagens, falando de sexo, bandidagem e selvageria tinham sido banidas das rádios, o único jeito de gravar alguma coisa vendável era gravar músicas com a temática amor/dor e foi isso que os Beatles e todas as outras bandas da época fizeram. Lembrem se que os Beatles foram recusados pela gravadora Deca, que disse que “bandas de guitarras jamais farão sucessos na década de sessenta". Isto é sintomático. O caminho era esse.



Qualquer análise superficial vai perceber uma mudança e amadurecimento contínuo no estilo de letra do grupo. Se alguém disser que You’ve got to hide your Love away, Eleanor Rigby, Im only sleeping, Norwegian Wood, I’m the Walrus, She´s leaving home, A day in the life, Im so tired entre outras são letras bobas, repetitivas e rasas não entendeu nada.







Os Beatles são a banda mais overrated da história ?



Isso não é verdade. Depois de atingir o sucesso os Beatles tiveram acesso imediato e facilitado a todas as tendências musicais de uma época onde a canção era a principal e mais forte forma de reflexão social, os anos sessenta. Foi fácil para um grupo bem assessorando navegar nessas influências, psicodelia, hard rock, folk…Eles eram os reis de uma década que estabeleceu padrões estéticos para a música do século XX. É natural que além de talentosos eles tivessem também uma visão privilegiada de tudo que estava acontecendo. Eles ainda tiveram o espírito que falta na grande maioria de terminar a banda na hora certa. Encerrando uma carreira e iniciando um mito.



George Harrison era um pobre coitado?



Não, apesar do guitarrista ter sua cota de 2 músicas em cada disco ele escreveu canções lindíssimas (competindo com a dupla barra pesada Lennon/McCartney) Quando os Beatles se separaram ele lançou um disco triplo (!) com as canções que supostamente não teve oportunidade de emplacar em um LP Beatle. O resultado é o clássico e comovente "All things must pass" Um dos melhores discos de rock te todos os tempos. George ainda teve uma carreira rica, criativa e digna até sua morte em 2002.







Yoko Ono acabou com os Beatles?



Isso é um papinho de viúva que não cola. Os Beatles acabaram por um motivo claro. Simplesmente não funcionavam mais como banda e queriam seguir caminhos diferentes. Simples assim. Não precisa de uma megera japonesa pra causar esse impacto. Lennon queria projetos mais alternativos, Paul queria se enterrar cada vez mais na música típica britânica, George queria gravar suas demo e Ringo…bem, o Ringo queria passar a próxima década como arroz de festa de qualquer reuniãozinha em Hollywood que conseguisse estar sóbrio o suficiente para aparecer.



Pra entender melhor (ou não) a importância e qualidade dos Beatles, deixo vocês com um vídeo do genial Sérgio Sampaio, já no final da vida. Segundo o professor: "Está tudo errado...tudo errado... brilhante!"







E quem chegou agora é quer saber MUITO mais de Beatles pode ouvir meu poscast, o Frakast, sobre os Beatles aqui e aqui.



Concorda discorda? quer só criar mais polêmica, comente!



2 comentários:

  1. Don Pablito, os Beatles são fodas e cresceram muito como banda durante a carreira, mas a puxaçao do saco deles é muito grande mesmo. Pra mim eles são overrated sim e também grande produto de marketing. No final das contas, mesmo os bons produtos precisam ser promovidos, para chegar aos ouvidos de todos...

    ResponderExcluir
  2. Perfeita argumentação cara! Beatles pra sempre, a maior forma de arte de século XX.

    Abraço.

    ResponderExcluir