domingo, 12 de julho de 2009

A Liga Extraórdinária Brasileira


Poucos de vocês devem ter ouvido falar da história em quadrinhos “A Liga Extraordinária” (The League of Extraordinary Gentlemen) de Alan Moore. Porém, muitos de vocês já devem ter assistido ou ouvido falar da adaptação para os cinemas, que acabou sendo um fracasso de bilheteria e crítica. Eu discordo de ambas. Hoje vi a reprise e atesto que apesar de não ser um filme excelente, e de admitir que ele abusa das licenças nas adaptações, acho um filme interessante, principalmente se você conseguir pescar as referências às literaturas britânica e americana.

A ideia de juntar grandes figuras da literatura clássica e colocá-los juntas é fascinante, e me fez pensar. E se criássemos no Brasil nossa própria liga, com nossos heróis dos romances e folhetins do século XIX? O resultado está aí. Para o deleite de vocês e para o orgulho do meu professor de Literatura, apresento a Liga Extraordinária Brasil.

Bento (Bentinho) Santiago
“Dom Casmurro”, de Machado de Assis

Bento tem três fases interessantes, mas a que a gente vai usar é a do camarada carrancudo, cético, pessimista e amargo. É ele é quem dá um sopro de realidade na fantástica equipe, trazendo sempre as aventuras para o plano do real. Bento faz as vezes de líder austero, não permitindo que as personalidades conflitantes de seus integrantes arruínem a missão.

Leonardo Pataca
“Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida
Em seu romance, Leonardo é um rapaz cujas aventuras e desventuras são narradas com graça e malícia. Leonardo se vale de artimanhas para garantir a sobrevivência, vive ao sabor das circunstâncias e vai se metendo em enrascadas e delas se livrando com astúcia e sorte. É o espertalhão do grupo. Tem seus contados, conhece as ruas e conta com uma inacreditável sorte que sempre o tira das enrascadas. É o mais jovem do grupo, sua inexperiência é compensada por sua esperteza e impulsividade.

Peri
“O Guarani” – José de Alencar
Peri, o "bom selvagem", corajoso chefe da nação dos Goitacases. Ao contrário de Leonardo, Peri é puro, justo e correto. Peri tem força e resistência invejáveis. Apesar de conhecer a natureza e os segredos místicos da floresta, tem total inabilidade em compreender os modos do homem branco e suas artimanhas.

Brás Cubas
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis
Cubas é um fantasma que usa seus poderes do além para ajudar seus amigos da Liga. Irônico e dono de um perturbador senso de humor negro, Brás não dá a mínima pros vivos e passa o tempo inteiro brincando com suas fragilidades mundanas com sua pena da galhofa e tinta da melancolia.

Jão Fera
“Til”, de José de Alencar
No romance, Jão Fera, o Bugre, é um brutamontes capaz das maiores atrocidades, mas que guarda bem fundo em seu interior um bom coração. Quase um corcunda de Notre Dame. Vamos dar uma exagerada: na nossa história, Jão Fera é um descomunal e agressivo monstro dotado de músculos poderosos e pouco intelecto.

Cabeleira
“O Cabeleira” – Franklin Távora
Nenhum grupo de herois ficaria completo sem um anti-heroi sanguinolento. Esse é José de Gomes, o Cabeleira, um dos primeiros cangaceiros do Brasil. Um paraibano modafoca que resolve seus problemas na base da peixeira. Apesar da sua personalidade corrompida, Cabeleira é um fruto da situação, sendo capaz de agir pela justiça quando convencido.

Lucía
“Lucíola”, de José de Alencar
Lúcia era uma mulher de rara beleza e suave aspecto, que faziam parecer uma jovem inocente. Esse aspecto na verdade esconde uma mulher sedutora e dominadora, bem diferente das outras em sua época. Lúcia é sofisticada e cosmopolita e, ao contrário da maioria de seus companheiros de equipe conhece os maneirismos e as sutilezas da etiqueta europeia. Ela é independente e decidida, uma mulher de gênio muito forte.

E você, tem algum nome para acrescentar? Discorda de alguma escolha? Comente!

Update: A Flávia Durante me mandou um link do Topismos de Denis Pacheco, que teve a mesma idéia. Pra não ficar devendo nada, vai o link da Liga que ele imaginou.

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16 comentários:

  1. muito boa a idéia, mas ficou faltando o Riobaldo/Diadorim e algum personagem policial do Rubem Fonseca... que tal???

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  2. Aleluia! Pela primeira vez vejo alguém entender que apesar de serem completamente diferentes o filme e os quadrinhos da Liga extraordinária, o primeiro não é ruim. Fazer uma liga com personagens da literatura brasileira é bastante difícil, principalmente se nos preocuparmos com o aspecto temporal, que foi levado em consideração na obra de Moore.

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  3. Sensacional a idéia, hahha. Mas acho que, neste caso, não poderia faltar o grande Policarpo Quaresma do Lima Barreto, não?

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    1. Mas o Leonardo já cobriria um personagem militar. E mais jovem...

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  4. Sensacional a idéia, hahha. Mas acho que, neste caso, não poderia faltar o grande Policarpo Quaresma do Lima Barreto, não?

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  5. acho que não poderia faltar o comissário mattos, de agosto. Ele seria o grande mentor intelectual da liga, nos moldes de grandes líderes das HQ`, como professor Xavier, ou até mesmo o saudoso comissário gordon.

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  6. A idéia aqui era realmente utilizar personagens da literatura romantoica/realista, do século XIX. Mas depois dessas sugestoes, já está me dando vontade de fazer a Liga do século XX

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  7. se a liga é brasileira pq importaram um tigre? o.O

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  8. RESPONDENDO: Rapaz, cê acredita que tinha a textura de onça? Na bobeira eu fiz a de tigre e perdi os desenhos originais...ficou por isso mesmo.

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  9. Rá! Graças à idéia deliciosa de uma Liga Extraordinária 1980, que pintou ontem, vim parar aqui. Eu também já me peguei pensando numa Liga Tupiniquim, mas em comum com a sua versão, só teve o Leonardo Pataca. Sabe de quem eu senti muita falta? Um grande homem de ciência, um pensador, um verdadeiro cérebro por trás da equipe. Na minha versão, este seria o Dr. Simão Bacamarte, de "O Alienista", do Machado...
    De resto, bem bacana!

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  10. APESAR DAS CRÍTICAS AO FILME, FOI ATRAVÉS DO FILME QUE CONHECI A LIGA, O QUE ME LEVOU A ADQUIRIR OS DOIS VOLUMES DA OBRA. REALMENTE Á GRAFIC NOVEL É SUPERIOR. MAS ISSO SEMPRE ACONTECE COM AS ADAPTAÇÕES DE UMA OBRA LITERÁRIA PARA O CINEMA. MAS FICA A MINHA SUGESTÃO, INSPIRADA NO FILME: NA NOSSA LITERATURA TEMOS UM PERSONAGEM IMORTAL. É O ÍNDIO TIBICUERA, DO ROMANCE TIBICUERA DE ÉRICO VERÍSSIMO. LÓGICO QUE TERÍAMOS QUE TIRAR O PERÍ, OU A NOSSA LIGA TERIA DOIS ÍNDIOS. UM ABRAÇO MOÇADA!!!

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  11. Excelente idéia! Eu já pensei nisso, assim que vi o filme. Mas os personagens que você acrescentou formaria uma Liga Incrível. \o/

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  12. Podem entrar o Macunaíma, a Gabriela (Cravo e Canela) e a imortabilíssima Emília, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, essa sim uma heroína de canastrinha cheia!!! Não fosse por ela, Hércules não completaria nem meio dos 12 Trabalhos!!!

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