segunda-feira, 18 de maio de 2009

Álbuns Clássicos (#6)

Os Incíveis - Discografia (1963-1979)
(Este mês esse texto meu foi publicado pela International Magazine do Marcelo Fróes. Pra quem não teve a oportunidade de comprar, reproduzo aqui o texto em duas partes)

Os Incríveis e a incrível aventura em busca do sucesso (parte1)

Talvez sejam nos chamados anos sessenta (por anos sessenta vamos compreender aqui, o período entre 1958-1969) que a música brasileira viu as maiores transformações em termos de estrutura, arranjo, melodia, ritmo, estética, contexto e tema: o fim dos anos dourados de JK, os turbulentos anos Quadros, a virada para a esquerda de Jango, o Golpe Militar. No exterior não foi diferente, Guerra fria, Vietnã, Luta pelos direitos civis e contracultura hippie deram a tônica desses anos. Como fenômeno sociocultural e principalmente de reflexão social, a música popular acompanhou todas essas influências mudando e se reinventando radicalmente ano após ano desde o lançamento da suavidade elegante da Bossa Nova, até a explosão sensacionalista do Tropicalismo.

E o que que isso tudo tem a ver com “Os Incríveis”? Tudo. São poucas as bandas da época em que pode-se perceber as nuances desta paleta de influências tão claramente como em sua discografia. Então, vamos analisar os discos lançados pelo sexteto durante este período e indo além, observando o rumo que o grupo toma até o fim da década de setenta. Encontrando em cada um deles, sinais da transformação estética da MPB neste período.

No início dos anos 60 havia uma banda de rock paulistana chamada “The Clevers”. Formada por Domingos Orlando, ou "Mingo" (voz e guitarra), Waldemar Mozema, "Risonho" (guitarra), Antônio Rosas Seixas, "Manito" (teclados, vocal e sax), Luiz Franco Thomaz, "Netinho" (bateria), Demerval Teixeira Rodrigues, "Neno" (baixo), que foi substituído em 1965 por Lívio Benvenuti Júnior, o "Nenê". No início a banda tocava covers das bandas The Shadows e The Ventures, twists e sucessos da Jovem Guarda. Por problemas legais (Um ex-empresário se apossou do nome, batizou outro conjunto como “Clevers” e ameaçou processar a banda antiga), tiveram que trocar o nome do grupo, se lançando como os “Incríveis Clevers” e depois apenas “Os Incríveis”. Apesar da bizarra troca de nome no auge do fenômeno da Jovem Guarda, o grupo seguiu firme se apresentando na TV e gravando canções. Hits como “O Milionário” alcançaram sucesso e catapultaram álbuns entre 63 e 66 e fizeram dos Incríveis a banda de rock preferida do Brasil. Chegaram até mesmo a lançar um disco em espanhol “Los Increíbles” tocaram ao vivo na Europa, compraram equipamentos modernos e roupas da moda na Swingin London e fizeram uma vitoriosa turnê ao Japão que acabou em single. Em meados da década Os Incríveis eram famosos no Brasil e no exterior e tinham os melhores equipamentos de som e de luz do país.

Em 1967, com o esgotamento da fórmula estética do Iê,iê,iê, coube a banda se segurar onde podia tentando tatear o sucesso. Os Beatles (no momento a principal referência) estavam entrando em conceitos bem mais diversificados como misticismo, psicodelia, crítica social, experimentalismos, coisa que muitas bandas de rock tentariam emular, mas pouquíssimas conseguiriam realmente. Grupos como Brazillian Bitles, Beat Boys, Liverpool, Brasas tentaram desesperadamente deixar seu som mais “moderno” muitas vezes com resultados que beiram o humor involuntário. Os Incríveis também tentaram.

Vieram os álbuns de 1967 “Neste Mundo Louco”(trilha sonora de um filme homônimo gravado durante a turnê Européia) e “Para os jovens que amaram os Beatles e os Rolling Stones”. O primeiro é uma coleção descomprometida de diversas canções em inglês como “Hold Tight” do grupo britânico Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich e uma curiosa versão de “Mamãe passou açúcar em mim”, que Carlos Imperial jurava que seria gravada pelos Rolling Stones.

Um dos méritos dos Incríveis era que por contar com ótimos músicos e vir do rock instrumental, rápido e preciso. Com isso a banda era extremamente entrosada e tocava muito bem. “Para os jovens...” conta com diversas faixas instrumentais, além disso, os arranjos são sensivelmente mais delicados, há uma preocupação maior com a harmonia vocal, num estilo que se aproxima ao dos Beach Boys (Há inclusive “Nosso Trato” uma boa versão de “Dont Worry Baby” do quinteto californiano). Por outro lado “Era um garoto que como eu amava os Beatles o os Rolling Stones” (G. Morandi, versão de Brancato Jr.) traz pela primeira vez o tema da Guerra do Vietnã para a música pop brasileira. A música é um sucesso e dá longevidade e principalmente credibilidade ao grupo. Essa canção aliás, mais de 20 anos depois seria ressuscitada pelos gaúchos do “Engenheiros do Havaí”. Visualmente, a partir daqui veremos mudanças nas capas dos álbuns: cores psicodélicas, tratamento artístico, tipografia no estilo da época. As roupas também flertam com a psicodelia.

No auge do sucesso, a banda ganhou fôlego para experimentar coisas novas. Em 1968 lançam “Os incríveis Internacionais” numa clara tentativa de elevar seu som a um nível “exportação”. A música brasileira como um todo estava se abrindo ao estrangeiro, o Tropicalismo estava nascendo, Caetano Veloso e Gilberto Gil defendiam o Som Universal com “Alegria, Alegria” (que tirara "Era um garoto..." do topo das paradas) e “Domingo no Parque”. Na mesma época o rei da Jovem Guarda Roberto Carlos voltava seu repertório para um espírito Soul, abusando dos metais e da voz rasgada. Esse espírito se reflete claramente neste álbum.

“Os Incríveis Internacionais” gravam em inglês, apresentando uma excelente cover bluseira dos Stones em “Time is on my Side” e uma duvidosa gravação de I Fell Good, sucesso na voz de James Brown. Ainda temos tentativas de fazer um som debochado como o dos Mutantes, o que pode-se ver no estilo de canto irreverente e nas risadas involuntárias capturadas nas gravações e até mesmo na inacreditável “Pirolito”, que quase destrói um bom álbum. Ainda neste LP, vê-se reflexos da vitoriosa turnê ao Japão citada, que foi tão emocionante e consagradora para os Incríveis que rendeu três faixas: “Kokorono-NIji” “Sayonara, Sayonara” e “I love you, Tokio” (com partes cantadas em japonês!).

(continua)


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