(Este mês esse texto meu foi publicado pela International Magazine do Marcelo Fróes. Pra quem não teve a oportunidade de comprar, reproduzo aqui o texto em duas partes)
1969 é o ano da explosão do tropicalismo. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e outros artistas tomam a MPB de assalto com roupas multicoloridas, arranjos irreverentes e temas nacionais, flertando com o cafona, o provinciano e o brega em contraponto a um desejo de se modernizar e de se abrir ao mundo. Um filho hibrido da batalha entre as correntes reacionárias da MPB e a garotada do Iê,iê,iê.
Lançado um álbum simplesmente chamado de “Os Incríveis” (que tem uma capa que lembra “Village Green Preservation Society” dos Kinks.) a banda dá sinais de uma reverência ao Tropicalismo. Esta influência pode ser verificada na primeira faixa, a inspirada “Vendedor de Bananas” (um sambalanço de Jorge Ben) mais uma guinada no som do grupo e mais uma tentativa de se manter na vanguarda do que estava fazendo sucesso no Brasil. Soam modernas também “Que coisa Linda” com ataques de metal estilo Beatles, “Vendi os Bois, um “baioque” bem no estilo da época. Neste álbum ainda se destaca a canção “Jurema” de autoria de nada mais nada menos que Tim Maia, que só iria explodir para o sucesso no ano seguinte cantando a mesma canção em inglês.

Chega a década de setenta. O regime militar aperta mais e mais a produção musical e a censura afia suas garras. Há um esvaziamento (forçado) do Tropicalismo e a música brasileira perde seus melhores e mais inventivos interpretes e compositores, que ou se mudam ou são mudados para o exterior. O rock nacional fica totalmente sem referencial e completamente subserviente às influências do Hard Rock e do Progressivismo, palavras de ordem na Inglaterra e Estados Unidos.
Em 1970 os Incríveis lançam mais um álbum homônimo em que, como sugere a capa, seria um raio-X da banda. Um ataque da guitarra na primeira faixa “Adeus, amigo vagabundo” (Emprestando o riff de “Foxy Lady” numa homenagem a Jimmi Hendrix, falecido neste mesmo ano) abre o LP. Há ainda uma curiosa tentativa de flertar com o Soul nacional de Tim Maia, o mesmo que emprestara uma canção à banda no ano anterior.
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O tema é realmente controverso, mas uma audição atenta revela um tom de ironia, (tanto no ritmo de fanfarra quanto na debochada “lalálá” dos backing vocals ou nos gritos no fundo do estúdio) que talvez não tenha sido bem compreendido. A gravação, talvez até involuntariamente, soa como uma irreverente e ácida crítica ao oba-oba do “Milagre Brasileiro”. Mas parece que a época não era de brincadeira.Outra marca da década de setenta foram as explosão dos discos conceituais. No Brasil era uma época de escapismo do estrangulamento da censura e da ditadura.

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Nessa época gravam também um raríssimo compacto com o Hino Nacional Brasileiro e o Hino da Independência (um brinde do sabão em pó Rinso), assumindo de vez o estigma de colaboradores da ditadura.
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Descendo sem freios a ladeira da decadência, lançaram “Os Sucessos das Paradas” (1979), onde a banda tira até uma casquinha da Disco Music regravando, entre outras pérolas, “YMCA” do Village People. Quem pensava que a banda já estava no fundo do poço descobriu que o fundo do poço tinha porão. Os Incríveis ainda se reuniria em 1980 para gravar e realizar shows, mas já em tom de nostalgia, apenas pra fazer uns trocados e reformar o apartamento.

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