quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Apogeu de John Lennon

Este ensaio foi escrito pelo meu melhor amigo e comparsa da época de faculdade (e padrinho do meu casamento), Gibran Rocha e é um dos textos mais interessantes que eu conheço. Eu guardo e agora compartilho com vocês.
Kant achava que o medo da dor superava o desejo de prazer. Lacan, embasado em Sade (o prazer rapidamente acaba, enquanto a dor e o sofrimento podem durar quase que indefinidamente), tirou disso que a dor, como único sentimento a priori, é melhor para proporcionar prazer sexual do que qualquer outra coisa. A visão de Kant da alma imortal que busca eternamente a perfeição ética seria o exato oposto da visão do corpo imortal, como capaz de suportar eternamente a dor e a humilhação.
O que isso tudo tem a ver com música?
Conhecidos mundialmente por um discurso utópico de alegria e amor, os Beatles tiveram seu ápice criativo em 1968, ano em que lançaram o “Álbum Branco”. Entre brigas, desentendimentos e desilusões, John Lennon mostra que não precisa dos aparatos psicodélicos de Sargent Pepper Lonely Hearts Club Band e Magical Mistery Tour para demonstrar sua sofisticação. Foi nessa época que começou o relacionamento de Lennon com Yoko Ono e seu conseqüente afastamento dos outros integrantes da banda. Essa época marca também a desilusão com o guru indiano Maharishi, que prometeu-lhes o céu, mas só queria o dinheiro dos quatro.
John Lennon é quem desequilibra o disco. É o ápice de suas composições, seja em delicadas baladas como Dear Prudence e Julia (“Half of what I say it’s meaningless/ But i say it just to reach you Julia), na desilusão com a religião e o guru Maharishi (“Sexy Sadie, what have you done?/ You made a fool of everyone” - Sexy Sadie), no fim da amizade com Paul McCartney (“I told you about the walrus and me/ You know that we we’re close as can be/ But here’s another clue for you all/ The walrus was Paul” - Glass Onion), nos problemas de uma corte imaginária (“Cry baby cry / Let your mother sigh / She’s old enough to know better” - Cry Baby Cry) ou seja em puras manifestações de neurose e depressão, como em “Im so tired” (“ I’d give you everything I got for a little piece of mind”) e em “Happiness is a warm gun” (“I need a fix cause I’m going down”). E tem a paranóica Revolution # 9, provavelmente a primeira faixa esquizofrênica-experimental da história do rock.
É na dor e no sofrimento que Lennon alcança seu auge. O prazer que o Álbum Branco causa em quem o ouve é proporcional à descarga de sofrimento nele inserida.

Um comentário:

  1. Pablo sempre revirando o baú... rs

    Agradeço os elogios, mas dava pra ser melhor.

    Esse trecho, por exemplo, não é verdade:

    "E tem a paranóica Revolution # 9, provavelmente a primeira faixa esquizofrênica-experimental da história do rock."

    Só pra ficar ns clássicos, tem Astronomy Domine no Piper At Gates, do Pink Floyd.

    Posso mandar textos novos pra por no seu blog?

    Abração!

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