domingo, 25 de janeiro de 2009

Álbuns Clássicos (#3)

Revolver - The Beatles (1966)



"Revolver é o disco em que, por consenso geral, os Beatles mostram o pico de sua criatividade, combinando material musical forte e econômico mas incisivo liricamente, com corajosas experimentações de estúdio" - Mark Lewisohn.


Estava pensando em um álbum dos Beatles para comentar aqui. Não queria algo óbvio como Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band de 1967, considerado o álbum mais importante de todos os tempos. Desta vez vamos mais a fundo resgatando o que apontou aquelas mudanças maravilhosas que estavam por vir. Vamos falar da primeira trombeta. Vamos falar de Revolver, um disco que, muito além de se tornar apenas mais um estrondoso sucesso comercial do Fab Four, se tornou influência universal e atemporal.
Revolver foi lançado em 5 de agosto de 1966 no Reino Unido Foi Produzido Por George Martin, Considerado o Quinto Beatle e que produziu todo o trabalho do conjunto. A estranha capa onde fotos dos Beatles aparecem recortadas e recontruidas em uma lógica destorcida tem a assinatura de um velho amigo da Alemanha, Klaus Woorman.
O novo álbum a princípio seria chamado de "Abracadabra". "Beatles On Safari" e "Magic Circles" também estavam sendo cogitados até então. Ao contrário da primeirsa impressão, o nome "Revolver" não tem nada a ver com a arma de fogo, vem da idéia de que todo disco revolve (gira) sobre um eixo no prato de uma vitrola.
Nos primeiros anos de carreira, os Beatles trabalharam dentro das regras existentes, se arriscando muito pouco em técnicas inovadoras de gravação (Um exemplo de inovaçãoé o ruído de distorção no Início de I Feel Fine, em 64) mas eram ávidos aprendizes das técnicas de gravação e produção. Até então estavam satisfeitos em compor durante as viagens e a gravar entre shows, aos poucos, se cansariam dessa rotina desgastando e começariam a diminuir as turnês. Em 12 de agosto, os Beatles fariam seu último show ao vivo, no Candlestick Park de Chicago.
Outro a ganhar crédito pelo álbum foi o recém promovido auxiliar de George Martin , um rapaz de 20 anos com um ouvido extremamente afinado, chamado Geoff Emerick. A diretoria da EMI e George Martin apostaram que um rapaz tão verde, tão inexperiente, não teria técnicas já preconcebidas e, assim sendo, não criaria maiores resistências em confrontá-las com outras. De fato, Emerick, cheio de idéias próprias, logo começou experimentando microfonar (no jargão, a técnica de posicionamento dos microfones no estúdio para melhor captar o som) instrumentos como a bateria e o baixo de forma diferente da tradicional. Como os Beatles também eram muito abertos para experiências, ele quase sempre teve carta branca para tentar algo novo.

Simultaneamente ao lançamento de Revolver, o single Eleanor Rigby / Yellow Submarine foi lançado e as duas músicas (que estão no disco) chegaram ao 1° lugar.
Quando apresentava a canção Eleanor Rigby a George Martin, Paul McCartney falava em ter cordas como em Yesterday, mas procurando não copiar a fórmula utilizada naquela canção. Na sessão, foram utilizados quatro violinos, duas violas e dois cellos.
O nome Eleanor Rigby nada tem a ver com a lápide do cemitério de Woolton com o mesmo nome, a não ser que seja em um nível subconsciente. Paul gostava do nome Eleanor, e o sobrenome tirou da loja de departamentos “Rigby”.
Yellow submarine a indiscutivelmente mais conhecida surgiu de uma sessão nada ortodoxa e uma das mais divertidas na memória da maioria daqueles que participaram. Acabou sendo o primeiro nº 1 de Ringo Starr. Contou com a presença de Brian Jones dos Rolling Stones e Marianne Faithfull, namorada de Mick Jagger.
A primeira canção do disco Taxman, é uma composição de George Harrison (a primeira vez que ele encabeçava um álbum e emplacava três composições suas) enfocando o problema dos artistas britânicos com o imposto de renda (em cada 20 shillings arrecadados pelo artista 19 iam para o governo britânico). Nesta época vários artistas ingleses gravavam fora do Reino Unido para escapar do Fisco.
Sobre I'm Only Sleeping , o solo de guitarra com som ao contrário existente na canção foi feito da maneira mais complexa possível. Todo concebido e realizado por George Harrison, ele, em seis horas, conseguiu montar todo o solo que se quer ouvir no final, de trás para frente. Assim, quando gravado e ouvido ao contrário, você tem as notas desejadas do solo na seqüência correta, mantendo o som de uma gravação ao contrário.
Embora não seja a estréia de uma cítara em disco dos Beatles, Love You To, outra canção de George Harrison, é sua primeira composição feita especificamente com o instrumento em mente. Já um aluno sério e dedicado ao instrumento, George arriscou ao colocar um instrumento indiano à tona na cultura pop.
Uma das músicas mais bonitas de Paul, Here There And Everywhere (curiosidade: Existe uma obscura gravação de Gal Costa desta música) é também uma das prediletas de Paul, e ele diz ter feito "uma imitação de Marianne Faithfull e Beach Boys". De fato, a base de construção da letra se parece com God Only Knows do Quinteto Californiano.
She Said, She Said nasceu de uma frase de Peter Fonda, "I know what it's like to be dead" (eu sei como é estar morto) dita a George Harrison em uma festa em Los Angeles.
Em I Want To Tell You, sua letra comenta sobre o disparate entre a velocidade do pensamento em relação à lentidão da fala ou escrita, analisando a dificuldade que se tem para concatenar idéias em frases concretas.
Paul diz que Good Day Sunshine era uma homenagem a Daydream do Lovin' Spoonful. Pelo menos tinha o mesmo estilo. Quando à histérica And Your Bird Can Sing, existe um registro de gravação muito especial que está no Anthology 2 (Coleção de CDs reunindo raridades de estúdio) em que os Beatles estariam supostamente chapados. John Lennon e Paul disparam a rir e realmente é impossível ficar sem rir também.
For No One foi composta em março daquele ano, quando Paul estava de férias na Suíça. Apenas Paul e Ringo estiveram presentes na gravação; Paul tocou baixo, piano e cravo e Ringo percussão. Alan Civil tocou a trompa. Paul escreveu uma nota de trompa acima do limite do instrumento, convencido de que Civil a alcançaria. Conseguiu.
Se formos verificar, perceberemos que Ticket To Ride , do álbum Help!, é a primeira canção dos Beatles com duração acima dos três minutos, audácia repetida no álbum Rubber Soul com You Won't See Me. Agora, em Revolver, temos duas canções quebrando este tabu, Love You To, de George e Tomorrow Never Knows, de John.
Mais do que qualquer outro disco, Revolver tem em sua temática, referências girando em torno de entorpecentes, mormente LSD. Por exemplo, Dr. Robert é sobre o médico americano Dr. Robert Freymann, que tinha um consultório em Manhattan, no Upper East Side, na rua 78, praticamente ao lado da residência de Jacqueline Onassis. Ela, como muitos outros ricos, vez por outra passava lá para tomar uma injeção de vitaminas. A injeção continha B12 e anfetaminas, que não eram proibidos então. Logo, muitos da elite artística se tornariam clientes.
Got To Get You Into My Life é Paul falando de sua paixão por maconha. A notável quantidade de instrumentos de sopro provém da eterna admiração dos Beatles pelo som da gravadora Motown.
Mas a canção que quebrou o gelo entre os artistas e a equipe técnica foi Tomorrow Never Knows, que foi justamente a primeira gravada no álbum. A canção nasceu como um rock de uma nota só, toda em Dó, resultante da admiração de Lennon pela música indiana, que normalmente não contém modulações. George Martin, ao ouvi-la no violão, não conseguiu entender muito bem a proposta. Ao mesmo tempo, já aprendera a confiar que sua dupla de compositores saberia o que fazer e como transformar a idéia crua que ele acabara de ouvir em uma composição viável.
Começaram então a gravar a base rítmica. A bateria de Ringo, que tem um som distinto de tudo que ele havia feito antes (soa moderno até hoje), soou daquele modo graças à mente aberta de todos para experiências.
O álbum Revolver tomou um sentido novo. Como a capa já prenuncia, Os Beatles revolveram a música pop remontando suas peças como um quebra-cabeça psicodélico apontando novos rumos e novas possibilidades.


Revolver no programa Agenda


Tomorrow Never Knows

Tracklist:
BEATLES REVOLVER 1966

1. Taxman (Harrison)
2. Eleanor Rigby (Lennon/McCartney)
3. I'm Only Sleeping (Lennon/McCartney)
4. Love You To (Harrison)
5. Here, There and Everywhere (Lennon/McCartney)
6. Yellow Submarine (Lennon/McCartney)
7. She Said, She Said (Lennon/McCartney)
8. Good Day Sunshine (Lennon/McCartney)
9. And Your Bird Can Sing (Lennon/McCartney)
10. For No One (Lennon/McCartney)
11. Doctor Robert (Lennon/McCartney)
12. I Want to Tell You (Harrison)
13. Got to Get You Into My Life (Lennon/McCartney)
14. Tomorrow Never Knows (Lennon/McCartney)

The Beatles
Paul McCartney - Baixo, guitarra, efeitos sonoros, vocais
John Lennon - Guitarra, orgão, marimba, efeitos sonoros, pandeiros, vocais
George Harrison - Guitarra, baixo, sitar, efeitos sonoros, pandeiros, vocais
Ringo Starr - Bateria, pandeiros, vocais

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