segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Eu Quero Saber quem Matou

5 malditos que você não pode deixar de ouvir.

Há algum tempo o auto-proclamado maldito Rogério Skylab lançou a música “Eu quero saber quem matou” homenageando os cantores malditos do Brasil. Maldito foi um rótulo colocado naqueles artistas que por algum motivo foram incompreendidos na sua época e acabaram exilados pela crítica e público, se tornando nomes proibidos nas gravadoras numa época que a produção independente ainda engatinhava.

Com o tempo esses artistas acabaram ganhando algum reconhecimento a partir do momento que seus discos sumidos das lojas, começaram a aparecer na internet.

O fenômeno dos malditos brasileiros é algo que eu dedico especialmente ao projeto de poder triopicalista de Caetano Veloso, que trata de empurrar para o ostracismo qualquer ameaça à sua soberania, mas isso é assunto para outro post. Vamos lá.

Este post é homenagem ao amigo Victor Quinderé (sigam, malditos!) que sugeriu o tema.


5- Jorge Mautner

Poeta, escritor, violinista, pianista, bandolinista, compositor, cineasta, artista plástico e cantor, Jorge Mautner sempre foi o patinho feio da geração do tropicalismo, ocupando sempre uma posição de coadjuvante e de pouco destaque na história, apesar disso, sua produção como poeta e músico é muito interessante e divertida.

Sepultamento: Não existe exatamente um momento que definiu o afastamento de Mautner das gravadoras. Seu estilo anti-comercial nunca foi devidamente reconhecido pelo público e crítica, condenando o artista a trafegar sempre pelo meio-fio da MPB.

Não deixe de Ouvir: Pra Iluminas a Cidade (1972) Árvore da Vida (1988) Mitologia do Kaos (2002)

Por onde anda: Mautner ainda faz shows e lança trabalhos espaçados. Em 2002 Gravou o disco "Eu não peço desculpas" pagando tributo à Caetano Veloso (olha ele aí) que colocou seu nome de volta à mídia

4- Jards Macalé

Jards começou durante o movimento tropicalista colaborando com diversos artistas como Gal Costa e Caetano Veloso. Jards tem com o segundo uma treta histórica. Acontece que Jards produziu e tocou violão no melhor disco do baiano “Transa”, mas na hora de colocar os créditos da banda, Caetano preferiu, por razões estéticas, não imprimir os nomes. A briga rola até hoje.

Sepultamento: A último suspiro de sucesso de Jards foi no 4.º Festival Internacional da Canção onde interpretou a canção “Gotham City” A interpretação foi bizarra, muita gritaria e performances no estilo happening. Ninguém entendeu nada e o cantor foi tragado pelo obscurantismo.

Não deixe de ouvir: Jards Macalé (1971) e Aprendendo a Nadar (1972)

Por onde anda: Jards continua na ativa, fazendo pequenos shows pelo país e lançando discos esporadicamente.


3- Tom Zé

Esse é um maldito que voltou vitoriosamente para a mídia nos anos 90. Após amargar anos de pouco caso do público brasileiro foi redescoberto por David Byrne (ex-talking heads) que o levou para seu pequeno selo (Luaka Bop) onde lançou uma coletânea de suas músicas. O CD acabou entrando numa lista da revista Rolling Stone americana como um dos mais importantes da década. Como tudo que gringo fala que é bom, brasileiro assina em baixo, o cantor pode voltar pra sua pátria e gozar de relativo sucesso.

Sepultamento: Após a explosão do tropicalismo, veio a ressaca com Caetano e Gil exilados. A mente criativa e anos a frente do seu tempo de Tom Zé não ficou parada. O baiano continuou numa escalada de experimentalismo que ia desde composições radicais a instrumentos bizarros feitos com enceradeiras e buzinas. Como o mundo ainda não estava preparado pra isso, Tom foi fazendo cada vez menos sucesso até quase desistir da carreira de música. ia ser frentista de posto.

Não deixe de ouvir: "Se o Caso é Chorar" (1972), Todos os Olhos" (1973), "Estudando o Samba" (1976)"e "Correio da Estação do Brás" (1978)

Por onde anda: Tom Zé continua incansavelmente inventivo e revolucionário. Seu último lançamento "Estudando a Bossa" foi indicado pro Grammy Latino.

2- Walter Franco

Walter apareceu num momento pré Vanguarda Paulistana. Suas composições eram cruas e fragmentada, flertando de maneira mais densa com o concretismo. Um anti-pop que agradou no início, (música sua chegou a ser gravada por Chico Buarque) mas acabou caindo na incompreensão geral do público.

Sepultamento: É só ouvir alguns discos para perceber. É o Antipop. O Antimercado. Alto conteúdo artístico + audição difícil + vanguarda = maldito! No Festival Internacional da Canção de 1972 apesar de ganhar um prêmio especial com "Cabeça" levou uma das maiores vaias dos festivais pela estrutura revolucionária da música que superpõe sons e interrogações sem a hierarquia melódica convencional.
O disco "Ou Não" foi um recorde de devolução nas lojas.

Não deixe de ouvir: Ou Não (1973) e Revolver (1975)

Por onde anda: Walter franco se encontra desaparecido da mídia, fazendo pequenos shows e jingles para comerciais.

1- Sérgio Sampaio

Sérgio nasceu na mesma Cachoeiro de Itapemerim de Roberto Carlos, mas sua trajetória não poderia ser mais diferente. Sérgio, lançado junto com Raul Seixas em "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”, alcançou o topo das paradas com a marcha-rancho "Eu quero é botar meu bloco na Rua" e um disco homônimo que surpreendentemente não fez sucesso, vendeu menos de 5 mil cópias num verdadeiro fiasco comercial.

Sepultamento: No auge do sucesso, as excessivas comparações com Caetano Veloso (sempre ele), fizeram Sérgio seguir um rumo diferente no disco seguinte, bem mais anti-comercial, fechando assim as portas das lojas de discos e gravadoras permanentemente. Sua vida excessivamente boemia e o alcoolismo também não ajudaram muito.

Não Deixe de Ouvir: "Eu quero é botar meu bloco na Rua" (1973) "“Tem Que Acontecer”" (1976)

Por onde anda: Sérgio Sampaio nunca se recuperou do descaso da indústria fonográfica e ensaiou algumas voltas com discos independentes, mas acabou morrendo em 1994 de pancreatite causada pelo alcoolismo. Seu disco póstumo "Cruel", produzido por Zeca Baleiro, com 12 canções inéditas foi lançado em 2006

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